sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Meninas vaidosas: era uma vez uma princesa...

Vestem-se de rosa, sonham em ser princesas. Sabem o que querem e fazem birra em nome das suas vontades. Até ontem, eram bebés, mas já se vêem como adolescentes.

Pintadas, de saltos altos, parecem bonecas. Ou mulheres em miniatura. Gostam da Barbie, adoram as Winx, abraçam-se e dizem hello à Kitty. São meninas, brincam com o espelho. Manejam o próprio corpo e sobretudo o próprio imaginário como se fizessem parte de um conto de fadas. As mães observam e até colaboram, entre o espanto, o encanto e a indulgência. São apenas crianças vaidosas e coquettes ou são mais do que isto? Será apenas uma questão de vontade ou transformaram o querer em capricho?
Princesas, bailarinas, fadas, fofinhas e cor-de-rosa. De olhos postos no espelho como quem constrói a personalidade através da alteridade, de um modelo quase impossível de cumprir. O limite entre a tradicional e saudável fantasia infantil de se vestirem como a mamã e bastante mais do que isso não é fácil de definir. Para Filipa Sobral, psicóloga clínica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, "a fronteira da normalidade é um enorme espaço, tal como é grande a responsabilidade de quem julga e orienta eventuais desadequações". A especialista sublinha a importância dos "valores familiares e dos modelos educacionais adoptados e da segurança com que são transmitidos".
"Abrir um armário que 'é meu!' e ter a liberdade para escolher roupas e combinar cores revela o encanto que representa a construção de uma identidade. Revela também a disponibilidade e a sensibilidade da criança para absorver o mundo que a circunda. Isto é crescer", afirma a psicóloga. Filipa Sobral explica ainda que é por volta dos 3 e 4 anos que surge "uma evidente necessidade de as meninas se afirmarem, por exemplo, através da escolha das roupas, testando os limites dos principais cuidadores".
E "o crescimento em si exibe comportamentos de identificação a determinados modelos que se reproduzem no uso de sapatos de salto alto, das roupas e das maquilhagens da mãe". Nada disso é estranho ou patológico. O problema parece estar na dimensão que algumas situações alcançam. "Existem padrões de comportamento que porventura se podem distanciar dos modelos mais comuns, não significando, por si só, que não sejam 'funcionantes'. A importância situa-se na coerência com que os valores são transmitidos às crianças e na forma como cada família interpreta aquilo que afinal é o 'crescer'", explica Filipa Sobral.

Suri, uma pequena celebridade
Um guarda-roupa de 2 milhões. No fim desta linha de afirmação das meninas à volta da forma de vestir aparece Suri, a filha de Tom Cruise e Katie Holmes, "boneca" perseguida pelos paparazzi, que anda pelo mundo de saltos altos e ostenta roupas decotadas em pleno Inverno. Suri Cruise foi eleita a criança com mais estilo em 2009. Por mais um ano consecutivo, a filha dos actores preencheu o imaginário de quem acompanha o mundo das celebridades, à frente dos filhos de Victoria e David Beckham ou de Shilloh, a primeira filha biológica de Angelina Jolie e Brad Pitt. Ícone da moda infantil com pouco mais de 3 anos, Suri foi considerada pela revista "Forbes" a criança mais influente de 2008. As chamadas revistas do sector cor-de-rosa já anunciaram que o guarda-roupa de Suri está avaliado em cerca de dois milhões de euros. A mãe, questionada sobre a correcção das suas opções relativamente à criança, diz não ver problema nenhum. Mas a educação da menina já é motivo de discussão no fórum global.
Questionada sobre este caso em concreto, Filipa Sobral afirma que a situação de Suri "parece ultrapassar os limites da normalidade, uma vez que 'ultrapassa' o direito a ser criança, numa recusa assumida pelos próprios pais". E vai buscar a afirmação feita por Gonçalo, um miúdo de 8 anos que, confrontado com as fotografias da pequena Cruise, afirmou: "Parece que a Suri nasceu com 20 anos." A interpretação da psicóloga é clara: "Ou seja, parece que a Suri está a queimar etapas do seu desenvolvimento psico-afectivo." Tanto que até algumas crianças já estão a perceber.
No Reino Unido, já foi fundado, há cerca de um ano, o movimento PinkStinks, que se propõe combater a tendência a pintar as meninas e tudo o que lhes diz respeito de cor-de-rosa. Em causa estará um modelo de meninas doces e passivas por detrás desta onda pastel, que já causa desconforto a quem discorda da tendência. Em Portugal, o tema ainda não é motivo de debate, talvez, sobretudo, porque a maioria das próprias mães revela algum pudor em assumir a sua participação na tendência de afirmação das crianças através da sua forma de vestir.
Têm 5 anos ou menos. Falam português, mas querem o mesmo que qualquer criança globalizada. As mães sublinham a distinção entre o espaço lúdico de dentro de casa e o mundo exterior. Mas as crianças, se pudessem, derrubavam eventuais barreiras. São pequenas fashion victims ou apenas estão à espera que os pais lhes imponham os limites? Porque não podem usar sapatos de saltos alto? Ou um estojo de maquilhagem?

Saias, folhos e laços
Mariana tem 5 anos. Tímida, fala pouco, ri-se muito. A mãe, Raquel, enfermeira, diz que a vaidade da filha começou a afirmar-se desde muito cedo. "Tudo muito natural", garante. É entre os 2 e os 3 anos que sublinha a sua identidade feminina: calças, não, nem pensar. Por isso, dava trabalho vesti-la diariamente. "Fazia autênticas birras para colocar uma saia", afirma Raquel. O comportamento tem melhorado, mas a tendência para a feminização do vestuário mantém-se. Não é fanática pelo cor-de-rosa, mas prefere tudo o que tenha folhos, laços. As amigas afinam pelo mesmo diapasão. A mãe culpa a pressão da televisão e da publicidade e diz que "é preciso ser firme a impor limites desde pequeninos. Se não, não será na adolescência que será possível". Por isso, diz que não se demoveu nas vezes em que Mariana se atirou ao chão a dizer que queria sair de saias quando a meteorologia e o bom senso não aconselhavam. A parte boa deste comportamento, diz Raquel, é quando a filha se põe à frente do espelho e afirma: "Sou giríssima" ou "estou lindíssima" ou, ainda, "maravilhoooosa!". Porque, acredita, "faz bem ao ego gostar de si própria". Uma das formas de evitar estragos maiores no desenvolvimento da personalidade passa por impedir que ela vá às compras de roupa com a mãe. Assim, evitam-se problemas. Raquel diz que, sobretudo, procura alcançar um equilíbrio entre o que é prático e o que Mariana gosta de vestir. Nem sempre é fácil. A miúda tem, por exemplo, o seu próprio estojo de maquilhagem infantil e gosta muito de acompanhar a mãe ao cabeleireiro para pintar as unhas. Até já disse que gostava de ser cabeleireira.
Carolina tem 4 anos. Magra e pequenina, não pára quieta um instante. Resposta sempre pronta na ponta da língua, não se perde quando lhe perguntam do que mais gosta: de cor-de-rosa, das Winx e de tiaras. As birras matinais também fazem parte da sua história, como quando teve de sair de casa de pijama. Não se conformou com a situação: "Que vergonha! Não quero sair assim!" A manifestação de vontade própria começou a falar mais alto por volta dos 2 anos. "Ela sempre soube o que queria", garante Edna, a mãe, que reconhece que é dela a influência maior no comportamento de Carolina. A explicação para comprar as roupas todas em cor-de-rosa é a practicidade. Afinal, assim Edna não se tem de preocupar em combinar roupas de cores dissonantes. E sublinha a razão: "A Carolina tem de estar sempre supergira. Primeiro, porque gosta. Segundo, porque vai para o colégio e as outras meninas reparam." Mas também há mais uma razão: a ascendência africana. Edna, comercial de uma loja de acessórios de moda, não aceita que a filha seja discriminada pela forma de se vestir. "Temos de ser vaidosas e cuidadas. É assim que a sociedade está construída. E se eu tenho de me vestir bem para ser tratada igualmente, visto-me bem. O mesmo com a minha filha: não quero que a tratem de forma diferente", assume. Quando está em casa, uma das brincadeiras favoritas de Carolina é trocar de roupa várias vezes ao dia. Com uma forte dependência dos óculos, a mãe prometeu a si mesma que não seria por isso que a filha teria uma quebra de auto-estima. Apesar de garantir ser contra os exageros e de ir dizendo não aos desejos de Carolina, a menina terá quase duas dezenas de Barbies e outras tantas de Nenucos. Não é completamente inabitual que Carolina vá à escola de tiara, "afinal, ela gosta de se sentir uma princesa". Então, porque não? "O mais importante é fazê-la feliz", afirma Edna.

Raquel é uma fada. Delicada. Minúscula. Silenciosa, mas buliçosa como uma borboleta. Suave, sobretudo. Voa pela casa com as asas cor-de-rosa espetadas nas costas. A mãe observa, encantada, às alterações que a filha vai nela mesma provocando. Até comprou um telemóvel rosa para deixar a filha feliz. Contida, Maria João, investigadora de estudos africanos, ainda se delicia quando a filha lhe pede: "Mãe, vamos ao cabeleireiro!" A pequenina vive num universo feminino desde os seis meses, altura em que os pais se separaram. Mas Maria João sublinha sempre para a filha a importância de "equilibrar a beleza exterior com a grandeza interior". Assim, conceitos como solidariedade e partilha fazem parte do vocabulário quotidiano das duas. Do que a Raquel gosta mesmo é de fantasiar, encarnar personagens. A mãe é uma ovelha, ela uma fada. E é assim que vai verbalizando questões relevantes. Já teve um estojo de maquilhagem no Verão. Ainda faz birras, "umas três ou quatro por semana", ora porque quer ir de asas para o colégio, ora porque quer usar um vestido "completamente inapropriado". Tanto que já ficou conhecida como "a menina cor-de-rosa". Não gosta de vestir calças e tem sempre uma peça de roupa cor-de-rosa. Derrete-se com ela mesma, o que a mãe considera positivo: "É uma questão de auto-estima e a estética também é importante." Longe de ser uma fashion-victim, o mundo de Raquel é feito de flores, corações e fadas. E surpreende quando diz: "Mais bonita do que eu, só a Branca de Neve." (Texto publicado na Revista Única do expresso de 16 de janeiro de 2010)

5 comentários:

Anónimo disse...

Menti à minha amiga, por amor. Quero tentar resolver as coisas com a minha amiga, mas não sei como.

In_Jovem disse...

Em primeiro lugar, não se deve mentir. Como diz o ditado “a mentira tem perna curta” e por isso, se algum dia se descobre um/a mentiroso/a, automaticamente as pessoas começam a confiar menos nele/a. Em segundo lugar, não se deve mentir a um/a amigo/a, mesmo por muito delicado que seja o assunto. Se são amigos/as, aceitam-se tal como são e, por isso mesmo, não precisam de andar com mentiras. Em terceiro lugar, sei também que as mentiras, às vezes, são para não fazermos sofrer o/a nosso/a amigo/a (porque a verdade, por vezes, é muito dolorosa!), no entanto acredita que a verdade pode doer na hora, mas depois passa; enquanto uma mentira vai passando a novas mentiras e, quando a verdade vier acima, vai doer muito mais!Portanto, o que acho que deves fazer neste momento é contar à tua amiga a verdade, ou seja, o que realmente aconteceu e o que isso significa para ti. Será que gostas do rapaz ou não? Ou o beijo aconteceu sem que tivesses culpa? Conversem as duas e tentem chegar à melhor solução. Quando a amizade é verdadeira, quase nada a consegue abalar, correcto? E lembrem-se sempre do ditado: a amizade é tudo o que fica, enquanto os amores vêm e vão…

Anónimo disse...

o que e um toxiciodependente

Anónimo disse...

o que é o alcoolismo?

In_Jovem disse...

Antes de te dizer o que é o alcoolismo, parece-nos importante que percebas as diferenças entre o consumo e a dependência do álcool. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os consumos de álcool em: consumo de risco; consumo nocivo; dependência. Consumo de risco - é um padrão de consumo que pode vir a implicar dano físico ou mental se esse consumo persistir. Consumo nocivo -é um padrão de consumo que causa danos à saúde, quer físicos quer mentais. Todavia não satisfaz os critérios de dependência. Dependência - é um padrão de consumo constituído por um conjunto de aspectos clínicos e comportamentais que podem desenvolver-se após repetido uso de álcool, desejo intenso de consumir bebidas alcoólicas, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos apesar das consequências, uma grande importância dada aos consumos em desfavor de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool (necessidade de quantidades crescentes da substância para atingir o efeito desejado ou uma diminuição acentuada do efeito com a utilização da mesma quantidade) e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado. Consequências destes tipos de consumos: o consumo de álcool contribui mais do que qualquer outro factor de risco para a ocorrência de acidentes domésticos, laborais e de condução, violência, abusos e negligência infantil, conflitos familiares, incapacidade prematura e morte. Relaciona-se com o surgimento e/ou desenvolvimento de numerosos problemas ou patologias agudas e crónicas de carácter físico, psicológico e social, constituindo, por isso, um importante problema de saúde pública. Um dos benefícios de ser feita a detecção precoce é o facto de os indivíduos que não são dependentes do álcool poderem parar ou reduzir os seus consumos de álcool com adequada intervenção, a qual deverá ser feita pelo teu médico assistente.